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22/02/11

Ella, voltarei sempre a falar de amor

Que melhor para nos exorcizar que ir até Sintra? Que melhor? Sintra. Não tinha nenhuma memória, do cheiro, do frio, do verde de Sintra. Apanho o caminho que vai dar entre os Capuchos e a Pena. Por esse caminho vê-se a vida diferente. Vê-se a vida dentro de um carro com alguma potência, que trespassa as curvas e do outro lado, nada mais se vê na berma da estrada, senão cópulas de mil árvores desalinhadas ou alinhadas, não sei bem.
O mínimo raio que passa entre elas ofusca-me a visão. Abro a janela do carro e sinto um frio…não é frio é um arelho gélido das nove da manhã de Sintra. Tem poucas casas. Não são casas, são palacetes de Sintra. Usuais lares de alguém, mas tão arquitetónicamente diferentes aos meus olhos que só sabem reconhecer prédios.
No carro alguém vai a cantar. Não sei quem é. Nem o carro nem o CD são meus. Canta sobre as marcas de um amor. De pensamento na estrada e nas árvores e no frio, aquela voz desvia-me o pensar. Que marcas esse amor, que está longe de ser cinza, me deixou?
Que marcas já sei reconhecer e aquelas, aquelas que eu simplesmente nem sei lhes dar nomes, que marcas são essas? Que marcas essas marcas me deixaram? Muitas e mais muitas mais e piores virão. Talvez não piores. Só acumuladas e aglomeradas e cada vez mais fundas.
E vives de marcas e feridas e não. Vives de ti, da vida e verticalidade que as nossas defesas são mecanismos perigosos a nossa existência do nosso eu. Do nosso selvagem. Do nosso eu que queremos ser e ser e mais ser!
Voltarei sempre a falar de amor. Mas medo é: voltarei mas cada vez mais brevemente. Em que o amor dá lugar a dor e o ser deixa de ser. Mas quero que pelo menos leiam quem eu era. Quem eu fui. Definitivamente e cheia de raiva quem não sou. Mataram-me a ingenuidade e eu deixei. Não me arrependo. Aqui fico a escrever-me para vocês. Sempre que puder. Sempre que a neura me deixar e que o sorriso não me leve na tristeza de apagar as memórias em desertos feitos da aridez de nada já sentir.
ELLA



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